sábado, 29 de outubro de 2011

Muamar Kadafi

Publicado originalmente em 26/02/2011


Muamar Kadafi tomou o poder na Líbia em 1969, com apenas 27 anos de idade. O seu primeiro ato como governante da Líbia foi expulsar todos os italianos do país, demonstrando o seu apreço pela Itália. Ele entregou o posto de Primeiro Ministro três anos depois, em 1972, e passou a se chamar "Líder e Guia Irmão da Revolução" e "Guia da Grande Revolução de Primeiro de Setembro da Grande Jamahiriya Árabe Líbia Popular e Socialista", provavelmente considerando que uma plaqueta dessas no seu gabinete cairia melhor que a de Primeiro Ministro.
Placa mostrando a frase "Grande Jamahiriya Árabe
Líbia Popular e Socialista" em Praga.

Jamahiriya vem a ser um neologismo árabe para república das massas. Kadafi começou a se vestir de maneira absurda, além de usar maquiagem exagerada. Ao mesmo tempo ele ordenou que o seu esquadrão de guarda-costas fosse composto por mulheres virgens. Em 2010 ele visitou a Itália e deu uma palestra exclusiva para mulheres, todas pagas para assistir. Nessa palestra ele declarou que toda a Europa deveria se converter ao Islã, e também que a União Européia deveria pagar 5 bilhões de euros por ano para dar fim à imigração ilegal de líbios para o velho mundo.

Guarda-costas virgens e roupas extravagantes,
combinação perfeita para impor respeito no mundo dos ditadores insanos.

Num discurso de duas horas feito na ONU, durante o qual inúmeras delegações se retiraram em protesto, Kadafi declarou apoio aos piratas somali, chamou Barak Obama de "meu filho", afirmou que Israel era responsável pelo assassinato de JFK e em seguida reclamou aos líderes mundiais reunidos para ouvi-lo que estava cansado e sofrendo de jet lag por causa da viagem de avião. 


Deixaram ele falar, agora aguentem.

Até o momento, Kadafi ainda está no poder e anuncia que lutará até a última gota de sangue para não sair dele. Considera que é muito importante para a Líbia continuar sendo governada por um dos donos da Juventus de Turim (comprou uma parte do clube apenas para que um de seus filhos pudesse ter a chance de jogar lá), e também o cara que fez uma petição à ONU para que dissolvesse a Suíça e dividisse o território entre Alemanha, França e Itália. Provavelmente ele vai banir os suíços do país.


Update: Kadafi foi executado sumariamente em 20 de outubro de 2011, em Sirte. Como muitas das vítimas do seu regime, não lhe foi concedido um julgamento justo e civilizado.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)