domingo, 27 de março de 2016

Tradução pascoal

Simão, o cirineu
Aquele que carregou a cruz
Eu estava em meu caminho para a lavoura quando avistei-Lhe carregando Sua cruz; e Ele era seguido por uma multidão.
Seu fardo parou-Lhe muitas vezes, pois Seu corpo estava exausto.
Então um soldado romano aproximou-se de mim, dizendo "venha, você é forte e robusto; carregue a cruz deste homem."
Quando ouvi essas palavras meu coração palpitou dentro de mim e fiquei grato.
E eu carreguei Sua cruz.
Ela era pesada, pois era feita de álamo encharcado pelas chuvas de inverno.
E Jesus olhou para mim. E o suor da Sua testa descia até Sua barba.
Novamente Ele me olhou e disse "Tu também beberás deste cálice? De fato tu sorverás esta borda comigo até o fim dos tempos."
Dizendo assim, Ele pôs Sua mão sobre meu ombro livre. E caminhamos juntos em direção à Colina da Caveira.
Mas agora eu não sentia mais o peso da cruz. Eu sentia apenas Sua mão. E era como a asa de um pássaro sobre o meu ombro.
Então alcançamos o topo da colina, e lá eles deveriam crucificar-Lhe.
E então eu senti o peso da árvore.
Ele não pronunciou nenhuma palavra quando eles colocaram os pregos em suas mãos e pés, nem emitiu Ele qualquer som.
E os Seus membros não tremeram sob o martelo.
Era como se Suas mãos e pés tivessem morrido e viveriam novamente quando banhadas em sangue. Também era como se Ele buscasse os pregos como um príncipe busca seu cetro; e como se Ele ansiasse ser alçado às alturas.
E meu coração não pensou em ter pena dEle, pois eu estava preenchido demais para imaginar.
Agora, o homem cuja cruz eu carreguei havia se tornado minha cruz.
Se dissessem a mim novamente "carregue a cruz deste homem", eu iria carregá-la até que meu caminho terminasse no túmulo.
Mas eu iria implorá-Lo para que pusesse Sua mão sobre meu ombro.
Isso aconteceu muitos anos atrás; e ainda quando eu sigo pela fileira da plantação, e naquele momento sonolento antes de dormir, eu penso naquele Amado Homem.
E eu sinto a Sua mão alada, bem aqui, no meu ombro esquerdo.
Khalil Gibran