sexta-feira, 24 de abril de 2015

Arquivando um poema

Arquivando um poema difícil de encontrar:

A LÁZARO
Está bem, está bem,
abriram-te a caverna,
sacudiram-te o sono,
mandaram-te sair,
e o cão à voz do dono
abandona ao ouvir
a solidão que tem.
Mas a tua era eterna!
Ninguém te perguntou
se querias voltar,
sofrer, recomeçar,
ser... Gritaram-te: "Vem! ".
Eu não iria... "Não vou! ".


Bruno Tolentino

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Uma resposta a Cine Íris

Novas novelas
Misturam-se com velhas:
Maduro da Venezuela
A Colômbia incendeia

No trono do Equador
O Foro governa Correa.
E Castros para sempre
Na ilha, desde cinquenta.

Pregar a essa Nínive odienta
Tal Jonas, digo 'não vou'
Prefiro enfiar-me no ventre
de uma grande baleia.

Perdoe-me a aspereza
Se nego a missão que me impôs
É porque nos anos noventa
Tive a ingrata certeza
De ter nascido depois

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Poema de G. K. Chesterton, tradução minha

Da autoria de um bebê que não nasceu

Se as árvores fossem altas e a grama curta,
Como em algum conto maluco,
Se aqui e acolá um mar fosse azul
Além do branco que ofusca,

Se uma bola de fogo pendesse no ar
Para me aquecer durante o dia,
Se cabelo verde crescesse nas altas montanhas
Eu sei o que eu faria.

No escuro eu permaneço; sonhando que há
Grandes olhos, frios ou gentis,
E ruas tortas e portas silenciosas,
E homens detrás delas a morar.

Que as nuvens negras venham: melhor uma hora
Sair para chorar e lutar,
Que toda a eternidade a governar
Os impérios da noite a fora.

Eu acho que, se me deixassem
Adentrar o mundo e lá fazer morada,
Eu seria bom durante todos os dias
Que eu passasse na terra encantada.

Não ouviriam de mim um gemido
De egoísmo ou desdém
Se apenas eu encontrasse a porta
Se apenas eu fosse nascido.