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sábado, 21 de maio de 2011

Poemas traduzidos, sem rimas

"The Lamb"
from Songs of Innocence

Little Lamb who made thee
  Dost thou know who made thee
Gave thee life & bid thee feed.
By the stream & o'er the mead;
Gave thee clothing of delight,
Softest clothing wooly bright;
Gave thee such a tender voice,
Making all the vales rejoice:
  Little Lamb who made thee
  Dost thou know who made thee
  Little Lamb I'll tell thee,
  Little Lamb I'll tell thee:
He is called by thy name,
For he calls himself a Lamb:
He is meek & he is mild,
He became a little child:
I a child & thou a lamb,
We are called by his name.
  Little Lamb God bless thee.
  Little Lamb God bless thee.

"The Tyger"
from Songs of Experience

Tyger Tyger. burning bright,
In the forests of the night:
What immortal hand or eye,
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies.
Burnt the fire of thine eyes!
On what wings dare he aspire!
What the hand, dare sieze the fire?
And what shoulder, & what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?
What the hammer? what the chain,
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp,
Dare its deadly terrors clasp!
When the stars threw down their spears
And water'd heaven with their tears:
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?
Tyger, Tyger burning bright,
In the forests of the night:
What immortal hand or eye,
Dare frame thy fearful symmetry?



O Cordeiro
de Canções de Inocência, William Blake

Cordeirinho, quem fez a ti?
Saberias tu quem te fez?
Deu-te vida & alimentou-te
Pelo riacho & sobre a relva;
Deu-te vestes aprazíveis,
Macia roupa sedosa de lã;
Deu-te uma voz tão doce,
Que faz todo o vale feliz:
Cordeirinho, quem fez a ti?
Saberias tu quem te fez?

Cordeirinho, eu te contarei,
Cordeirinho, eu te contarei:
Ele é chamado pelo teu nome
Pois Ele chama a si um Cordeiro:
Ele é manso & Ele é gentil,
Ele fez-se numa criancinha:
Eu, uma criança & tu, um cordeiro,
Somos chamados pelo nome dele.
Cordeirinho, Deus te abençoe.
Cordeirinho, Deus te abençoe.

O Tigre
de Canções de Experiência, William Blake

Tigre, Tigre, brilho ardente,
Nas florestas da noite:
Que mão ou olho imortal,
Ousou enquadrar tua temível simetria?

Em que distantes céus ou profundezas
Acendeu-se o fogo de teus olhos?
Sobre que asas ele ousou aspirar!
Que mão ousa pegar o fogo?

E que ombro & que arte
Poderia torcer o músculo do teu coração?
E quando teu coração começou a bater,
Que mão magnífica & que pés magníficos?
Que martelo? Que corrente?
Em que fornalha estava o teu cérebro?
Que bigorna? Que magnífico vigor,
Ousaria teus mortais terrores segurar!

Quando as estrelas lançaram abaixo as suas lanças
E molharam os céus com suas lágrimas:
Teria Ele sorrido ao ver o seu feito?
Teria Ele que fez o Cordeiro feito a ti?
Tigre, Tigre, brilho ardente,
Nas florestas da noite:
Que mão ou olho imortal
Ousou enquadrar tua temível simetria?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Anotações sobre o filme El Dorado

El Dorado, de 1966, reúne as estrelas John Wayne como o pistoleiro Cole Thornton e Robert Mitchum como o xerife J.P. Harrah, mas também tem a participação do jovem James Caan, que carrega o hilário nome de Allan Bourdillion Traherne, pelo qual se apresenta com muito orgulho, mas acaba sendo preferivelmente chamado de Mississipi, por ter nascido numa embarcação no rio de mesmo nome. Mississipi é um exímio atirador de facas, mas péssimo com armas de fogo. Sem tempo para treiná-lo, Thornton faz ele comprar um arma que em inglês se chama sawed off shotgun. Em português seria uma espingarda de cano serrado. Por ter o cano serrado, a arma faz um barulho assustador e lança chumbo espalhado na direção pra onde se aponta. Quando é usada, o único lugar seguro é atrás dela, dessa forma o atirador não precisa ter uma pontaria precisa para acertar o que quer. Essa arma produz cenas hilárias no filme.
Note a "sawed off shotgun" nas mãos de James Caan

James Caan também protagoniza uma cena muito mal feita nesse ótimo filme, quando se joga deitado na frente de cavalos em disparada. O corte na cena, provavelmente para introduzir um boneco no lugar do autor é muito visível, e dá pra se pensar em várias maneiras de eliminar isso, mesmo com os recursos da época. Mississipi faz essa loucura porque acredita que um cavalo nunca pisa num homem, como explica mais tarde e logo em seguida percebe o olhar espantado de Thornton e Harrah, que duvidam dessa crendice, o que deixa Mississipi visivelmente assustado, se dando conta da maluquice que fez.

O filme também possui música inspirada no poema de Edgar Allan Poe, que tem alguns trechos declamados por James Caan ao longo da trama.

Essa é a música tema e minha tradução:

In sunshine and shadow, from darkness til noon
over mountains that reach from the sky to the moon.
a man with a dream that will never let go
keeps searching to find El Dorado.


So ride, boldly ride, to the end of the rainbow.
Ride, boldly ride, til you find El Dorado.


The wind becomes bitter, the sky turns to gray.
His body grows weary, he can't find his way.
But he'll never turn back though he's lost in the snow...
for he has to find El Dorado.


So ride, boldly ride, to the end of the rainbow.
Ride, boldly ride, til you find El Dorado.


My daddy once told me what a man ought to be.
There's much more to life than the things we can see.
And the godliest mortal you ever will know
is the one with the dream of El Dorado.


So ride, boldly ride, to the end of the rainbow.
Ride, boldly ride, til you find El Dorado.



Pelo sol e pela sombra, da escuridão ao meio-dia
Pelas montanhas que vão do céu até a lua
Um homem com um sonho que persiste
Continua a procurar por El Dorado.

Então cavalgue, cavalgue corajosamente, ao final do arco-íris
Cavalgue, cavalgue corajosamente, até encontrar El Dorado.

O vento fica mais fustigante, o céu torna-se cinza
O seu corpo fica cansado, ele não consegue encontrar o caminho
Mas ele nunca irá voltar, mesmo perdido na neve...
Porque ele tem que encontrar El Dorado.

Então cavalgue, cavalgue corajosamente, ao final do arco-íris
Cavalgue, cavalgue corajosamente, até encontrar El Dorado.

Meu papai uma vez me contou como um homem deveria ser
Há muito mais na vida do que as coisas que podemos ver
E o mortal mais divino que você vai conhecer
É aquele que sonha com El Dorado.

Então cavalgue, cavalgue corajosamente, ao final do arco-íris
Cavalgue, cavalgue corajosamente, até encontrar El Dorado.



E o poema de Poe:

Gaily bedight,
A gallant knight,
In sunshine and in shadow,
Had journeyed long,
Singing a song,
In search of El Dorado.


But he grew old-
This knight so bold-
And o'er his heart a shadow
Fell as he found
No spot of ground
That looked like El Dorado.


And, as his strength
Failed him at length,
He met a pilgrim shadow-
"Shadow," said he,
"Where can it be-
This land of El Dorado?"


"Over the Mountains
Of the Moon,
Down the Valley of the Shadow,
Ride, boldly ride,"
The shade replied-
"If you seek for El Dorado!"


Trajado garbosamente,
Um cavaleiro galante,
Ao sol e à sombra,
Havia viajado longamente,
Cantando uma canção,
Em busca de El Dorado.

Mas ele envelheceu
Esse cavaleiro tão valente
E sobre seu coração uma sombra
Caiu quando ele não encontrou
Uma pista sequer de chão
Que se parecesse com El Dorado.

E, quando suas forças
Faltaram-lhe à distância,
Ele encontrou uma sombra peregrina
"Sombra", disse ele,
"Onde pode estar
Essa terra de El Dorado?"

"Pelas Montanhas
Da Lua,
Pelo Vale das Sombras,
Cavalgue, cavalgue corajosamente,"
A sombra respondeu-lhe
"Se você busca El Dorado!"

O poema de Poe foi publicado em 1849, durante a Corrida do Ouro na Califórnia.

P.S: Após a postagem percebi que o personagem Mississipi guarda em comum com o autor do poema que recita o nome Allan.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Eliot

Thomas Stearns Eliot, mais conhecido como T. S. Eliot, nascido em 26 de setembro de 1888, em St Louis, Missouri, e falecido em 1965. Tido como o poeta da língua inglesa mais importante do século XX, ganhou o Nobel de Literatura em 1948.









Eliot Ness, agente americano dos tempos da Lei Seca, famoso por ter conseguido prender Al Capone. Vivido nas telas de cinema por Kevin Costner, no filme "Os Intocáveis", de 1987. Nasceu em 1903 e faleceu em 1957.











Elliott, personagem interpretado por Henry Thomas no filme E.T. - O Extraterrestre, de 1982. Ficou famoso por tornar-se amigo do personagem título.















Eliot, meu primeiro filho, a quem aguardo ansiosamente, com nascimento previsto para julho deste ano.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ozymandias

Ozymandias é o nome grego do faraó Ramsés II, e também o codinome de um personagem dos quadrinhos e do filme Watchmen. O reinado de Ozymandias é considerado o período mais glorioso do Egito antigo, e o vigilante Ozymandias é considerado o homem mais inteligente do mundo. No filme, Ozymandias cita o trecho de um soneto de Percy Shelley. O soneto completo e minha tradução livre vão a seguir:

OZYMANDIAS

I met a traveller from an antique land
Who said: Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them, on the sand,
Half sunk, a shattered visage lies, whose frown

And wrinkled lip, and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamped on these lifeless things,
The hand that mocked them and the heart that fed.

And on the pedestal these words appear:
"My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye Mighty, and despair!"

Nothing beside remains. Round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare
The lone and level sands stretch far away

OZYMANDIAS

Conheci um viajante vindo de uma antiga terra
Que contou: Duas grandes e desmembradas pernas
Estão de pé no deserto. Na areia, perto delas
Um semblante destruído, os lábios cerra

Com a face de impávido comandante esculpida
Mostra que o escultor conhecia bem sua personalidade
Que ainda sobrevive estampada nessas coisas sem vida,
A mão que zombava e o coração cheio de vaidade.

E na base do pedestal estas palavras se subscrevem:
"Meu nome é Ozymandias, rei de todos os reis.
Contemplem as minhas obras, ó Poderosos, e se desesperem!"

Nada mais se vê, nada mais resta. Na decadência que se fez
Em torno dessa ruína colossal, árida e ilimitada
Se estende pelo infinito a planície de areia desolada.

O soneto parafraseia a inscrição do trono do faraó, como contada por Diodorus Siculus em seu Bibliotheca Historica: "Rei dos reis sou eu, Ozymandias, se alguém conhecer quão grande eu sou e onde eu estou, deixe que supere um dos meus feitos."

O tema central do soneto é a efemeridade de todos os líderes e dos impérios por eles construídos, não importa quão poderosos tenham sido em seu tempo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Joe DiMaggio

Joe DiMaggio é um jogador de baseball lendário. A primeira vez que ouvir falar dele foi lendo o livro de Ernest Hemingway, "O velho e o mar". No livro, Joe DiMaggio não é um personagem, mas é constantemente mencionado pelo protagonista Santiago, que o trata como se fosse um desportista superior a Pelé. Mais que um desportista, alguém a quem consultaria sobre diversos assuntos, mesmo sem nunca tê-lo conhecido. Santiago admira DiMaggio e gostaria de saber a opinião do jogador de baseball sobre sua pescaria, por exemplo. Mais tarde ouvi falar de DiMaggio pela segunda vez, na música Mrs. Robinson, de Paul Simon e Art Garfunkel. Os versos dizem: Where have you gone, Joe DiMaggio, a nation turns its lonely eyes to you. What's that you say, Mrs. Robinson? Joltin' Joe has left and gone away. Que traduzo como: Aonde você foi, Joe DiMaggio, uma nação lança seu olhar solitário a ti. O que é que você disse, Sra. Robinson? Joltin' Joe nos deixou e foi embora. Também li que o Joe ficou meio chateado com esses versos e respondeu que não tinha ido a lugar algum, porém Paul Simon explicou que os versos eram uma homenagem à despretensiosa estatura heróica do ex-jogador numa época em que a cultura pop distorce a imagem que temos dos heróis. A frase é um retrato da busca e valorização dos heróis dos americanos. Aqui no Brasil, eu incluso, poucas pessoas respeitam o Pelé, por exemplo, a ponto de se indagar o que ele acharia de alguma situação cotidiana ou extraordinária, como é descrito no livro "O velho e o mar". Mas Santiago, no meio da pescaria de um peixe fabuloso, diz a si mesmo: "Como eu gostaria que me visse agora o grande DiMaggio." E Paul Simon o lembra numa música como um dos grandes heróis americanos. Aonde eu queria chegar com esse texto? Lugar algum, realmente. Apenas anotações mentais que ponho agora no papel.

Parábolas

Muitos reclamam que as palavras dos sábios são sempre meras parábolas e não têm utilidade na vida diária, que é a única vida que temos. Quando o sábio diz: "Vá em frente", ele não quer dizer que você deva viajar para algum lugar de fato, o que poderíamos fazer, mesmo assim, se o esforço valesse a pena; ele fala sobre algum lugar fabuloso, algo desconhecido para nós, algo que ele também não consegue definir de maneira precisa, logo é algo que não pode nos ajudar aqui no fim das contas. Todas essas parábolas apenas acabam explicando meramente que o incompreensível é incompreensível, e isso nós já sabemos. Mas os afazeres com os quais temos que lidar todos os dias: isso é um assunto diferente.

A respeito disso um homem disse certa vez: Por que tal relutância? Se apenas seguissem as parábolas, vocês mesmos se tornariam parábolas e dessa forma se livrariam de todos os seus afazeres diários.

Um outro respondeu: Eu aposto que isso também é uma parábola.

O primeiro disse: Você venceu.

E o segundo disse: Mas infelizmente apenas em parábola.

O primeiro disse: Não, na realidade. Na parábola você perdeu.

Por Franz Kafka, originalmente em alemão, traduzido do inglês por mim.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fábula Curta, de Franz Kafka

"Ai de mim!", disse o rato, " - o mundo vai ficando dia a dia mais estreito" . "- Outrora, tão grande era que ganhei medo e corri, corri até que finalmente fiquei contente por ver aparecerem muros de ambos os lados do horizonte, mas estes altos muros correm tão rapidamente um ao encontro do outro que eis-me já no fim do percurso, vendo ao fundo a ratoeira em que irei cair". "- Mas o que tens a fazer é mudar de direção", disse o gato, devorando-o.

domingo, 19 de setembro de 2010

Momento badass em Shakespeare

Na obra de Shakespeare há muitos momentos badass, aqueles em que o personagem se assemelha ao que seria hoje um Rambo, ou um Dirty Harry, ou algum outro desses personagens durões bem conhecidos.
Na peça Henrique VI, cena X, a personagem Iden humilha a personagem Cade com um discurso bastante marrento. Segue no original, com minha tentativa de tradução. Lembrando que toda a poesia é perdida nas mãos de um tradutor amador como eu.

Nay, it shall ne'er be said, while England stands,
That Alexander Iden, an esquire of Kent,
Took odds to combat a poor famish'd man.
Oppose thy steadfast-gazing eyes to mine,
See if thou canst outface me with thy looks:
Set limb to limb, and thou art far the lesser;
Thy hand is but a finger to my fist,
Thy leg a stick compared with this truncheon;
My foot shall fight with all the strength thou hast;
And if mine arm be heaved in the air,
Thy grave is digg'd already in the earth.



Não, nunca será dito, enquanto a Inglaterra permanecer,
Que Alexander Iden, um esquire* de Kent,
Atreveu-se a combater um homem pobre e famélico.
Oponha os seus olhos arregalados aos meus,
Veja se tu podes fazer-me desviar o olhar:
Membro a membro, tu és claramente inferior;
Tua mão é apenas um dedo comparado ao meu punho,
Tua perna um graveto comparada a esta clava;
Meu pé lutaria com toda a força que tu tens;
E se meu braço fosse brandido no ar,
Tua cova já estaria cavada na terra.

*esquire é um título de respeito usado na Inglaterra, mas sem um significado definido.

O famoso monólogo de Shakespeare interpretado por Al Pacino



Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos? Se nos espetardes, não sangramos? Se nos fizerdes cócegas, não rimos? Se nos derdes veneno, não morremos? E se nos ofenderdes, não devemos vingar-nos? Se em tudo o mais somos iguais a vós, teremos de ser iguais também a esse respeito. Se um judeu ofende a um cristão, qual é a humildade deste? Vingança. Se um cristão ofender a um judeu, qual deve ser a paciência deste, de acordo com o exemplo do cristão? Ora, vingança. Hei de por em prática a maldade que me ensinastes, sendo de censurar se eu não fizer melhor do que a encomenda.