sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A evolução de Rocha, de Tropa de Elite para Tropa de Elite 2

O personagem Rocha no filme Tropa de Elite, aparece como apenas mais um dos muitos policiais corruptos do primeiro filme, mas seu papel era pequeno. Aproveitava-se de que era responsável pela escala de férias dos policiais sob seu comando para exigir deles um por fora, senão as sonhadas férias não saiam. Marcou com as frases "Eu posso até te ajudar, aliás, eu vou te ajudar! Eu quero te ajudar! Mas agora você tem que me ajudar a te ajudar" e "Soldado, se você quer rir, tem que fazer rir!" que naquele momento representavam apenas mais uma das muitas facetas da PM demonstradas na trama. Mais um funcionário público utilizando-se do seu cargo burocrático para conseguir dinheiro, coisa que faz parte da paisagem brasileira. Quem via aquela atitude de Rocha não chegava a considerá-lo um sujeito fisicamente perigoso, era um policial corrupto, mas ele estava apenas ganhando dinheiro com as férias dos outros, não era apresentado matando ninguém. Em Tropa de Elite 2, o quadro muda. Rocha é visto como um miliciano amedrontador e nocivo, capaz de assassinar um colega pelas costas, atitude que beira o extremo da vilania. O personagem me surpreendeu, e não digo isso de forma negativa ou positiva, mas apenas de não esperar mesmo as barbaridades que ele praticou no filme. Eu assistia e ainda tinha dúvidas. Conheço esse sujeito do outro filme, mas é ele mesmo? Ele é capaz disso? Afinal, era apenas um burocrata corrupto, quase um almofadinha na corporação. Como ele se tornou esse assassino frio e traíra?
Eu continuo achando que há uma diferença grande entre um policial que pede um por fora para liberar as férias do colega e um policial que é capaz de assassinar um colega pelas costas. Não dá para comparar essas duas coisas. Porém o filme chama a atenção no caso exemplar desse personagem para a questão dos valores. Se um sujeito passa anos praticando um ato ilícito aparentemente inofensivo para obter vantagens pessoais, e esse sujeito tem um certo poder e a permissão para usar uma arma de fogo, não deveria realmente surpreender que ele pudesse chegar ao extremo de tirar a vida de um colega sem sentir remorso, para salvar a própria pele e continuar obtendo vantagens financeiras. Não dá para se comparar a atitude inicial com a atitude final de Rocha, mas dá para entender como ele chegou lá. Perdendo o senso, o caráter, corrompendo os próprios valores. Quando os valores morais deixam de existir, a vida dos outros passa a ser um mero obstáculo que pode ser eliminado sem remorsos. E para um policial, dadas as circunstâncias e o meio, esse caminho é percorrido com mais facilidade do que em qualquer outra profissão. É por isso que o Rocha das férias, do Tropa 1 tem que ser defenestrado da força policial o quanto antes seja possível. Aquele PM que aceita uma cervejinha de suborno pode muito bem se tornar no Rocha do Tropa de Elite 2.

3 comentários:

Mariana disse...

Tem razão! Se as leis fôssem realmente cumpridas, o correto seria punir com demissão, qualquer policial que começasse a cometer algum deslize. Mas tudo aqui, nêsse Brasilzão, a coisa rola solta, porque tem muitos grandões (chefes dos Rochas)que devem praticar ilícitos piores, não é?

Anônimo disse...

Tudo muda tbm como uma frase, que aliás se parece muito com a de zé pequeno em cidade de Deus "e quem disse que a comunidade é tua?!"

pq tanto ele como zé pequeno descobriram naquele instante que poderiam ir mais além conquistar mais poder.

Anônimo disse...

Tudo muda no instante da frase "e quem disse que a comunidade é tua" que inclusive se parece muito com a frase dita por Zé Pequeno (Cidade de Deus)

naquela hora ele começa a enxergar que poderia ir muito além nos lucros e conquistar mais poder e consequentemente iria se tornar mais cruel também.