segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eliot nasceu





—— De sua formosura
já venho dizer:
é um menino magro,
de muito peso não é,
mas tem o peso de homem,
de obra de ventre de mulher. 
—— De sua formosura
deixai-me que diga:
é uma criança pálida,
é uma criança franzina,
mas tem a marca de homem,
marca de humana oficina. 
—— Sua formosura
deixai-me que cante:
é um menino guenzo
como todos os desses mangues,
mas a máquina de homem
já bate nele, incessante. 
—— Sua formosura
eis aqui descrita:
é uma criança pequena,
enclenque e setemesinha,
mas as mãos que criam coisas
nas suas já se adivinha.


—— De sua formosura
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha. 
—— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza. 
—— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva. 
—— De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.


—— é tão belo como a soca
que o canavial multiplica. 
—— Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas. 
—— Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia. 
—— é tão belo como as ondas
em sua adição infinita.


—— Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria. 
—— Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia. 
—— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia. 
—— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.


—— E belo porque o novo
todo o velho contagia. 
—— Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia. 
—— Infecciona a miséria
com vida nova e sadia. 
—— Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.

João Cabral de Melo Neto em "Morte e Vida Severina"

2 comentários:

Bel disse...

Lindo como é o nosso menino, tão esperado, tão amado, tão tudo.
Nosso lindo Eliot!

Mariana disse...

Eliot é muito lindo!
Saúde e muito amor à família de Thomas e Mabel!