sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Deu em Augusto Nunes

O Dia da Mentira já tem quase 70 mil horas



Alertado meses antes pelo governador goiano Marconi Perillo e, em seguida, pelo deputado Roberto Jefferson, o presidente Lula fingiu, em junho de 2005, que nunca ouvira falar em mensalão. Dias depois de escancarado o Pai de Todos os Escândalos, declarou-se “traído”. Ficou algum tempo em silêncio até recobrar a voz em Paris para recitar o que o criminalista Márcio Thomaz Bastos lhe ensinou: aquilo era dinheiro de caixa 2, coisa que sempre existiu no Brasil. Recentemente, decidiu que a roubalheira organizada pelo PT foi uma “tentativa de golpe” ─ contra ele.
Forçado a livrar-se de alguns ministros afundados nas sucessivas maracutaias federais, o presidente absolveu-os todos no palavrório de despedida. José Dirceu (“Meu querido Zé”) foi perseguido pela oposição e acusado de crimes imaginários. Antonio Palocci (“O maior ministro da Fazenda da história deste país”) enredou-se numa trama tecida pelo caseiro Francenildo Costa, um loiro de olhos azuis a serviço da elite golpista. Foi assim com todos. Até com Erenice Guerra: aboletada no último andor da procissão dos pecadores companheiros, a melhor amiga de Dilma Rousseff não ouviu sequer uma queixa balbuciada pelo Beato Lula.
Aos olhos do chefe, a fábrica de dossiês administrada por Aloízio Mercadante virou um recanto de garotos levados ─ os “aloprados”, como se ninguém enxergasse por trás dessa loucura de araque a lógica criminosa do PT. A usina de papeis bandidos instalada na Casa Civil pela dupla Dilma & Erenice virou “banco de dados”. Enquanto o país se estarrecia com a descoberta de que o Senado era a fachada da Casa do Espanto, condecorou José Sarney com a medalha de Homem Incomum, fechou contrato com Renan Calheiros e Romero Jucá, tornou-se amigo de infância de Fernando Collor e exigiu que fossem apresentadas as provas que só ele não conseguiu enxergar.
Desde o dia da posse, todas as incontáveis patifarias promovidas por delinquentes de estimação contaram com a bênção, o endosso e a cumplicidade de Lula. No último ano do segundo mandato, convencido de que a maior obra de um presidente é eleger o sucessor, o juiz que só absolve passou a acumular as funções de réu debochado. Com a desenvoltura dos que se acham condenados à impunidade, atropela a Constituição e a lei comum, zomba do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Há quatro meses, abandonou o emprego para fartar-se em almoços e comícios. E entregou o comando efetivo do Planalto às mãos suspeitíssimas de Erenice Guerra e, agora, de Miriam Belchior.
Ele tratou como factoides, miudezas ou piadas o estupro do sigilo fiscal de dirigentes do PSDB, o dossiê contra José Serra encomendado pelo PT, as bandalheiras de Erenice Guerra, a dissolução dos Correios, o desmoronamento da Casa Civil ─ e assumiu sem disfarces o papel de fora-da-lei quando confrontado com o ataque das milícias aos inimigos em campanha. Nesta quinta-feira, o serial killer dos fatos tentou enfiar na cabeça dos brasileiros outra versão cafajeste.
“A mentira que foi produzida pela equipe de publicidade do candidato José Serra é uma coisa vergonhosa”, fantasiou. Não está qualificado para tratar do assunto quem começou o governo com um assassinato da verdade e pretende entregá-lo a uma fraude monumental. Em janeiro Lula batizou de “herança maldita” o país recolocado nos eixos por Fernando Henrique Cardoso. Passados oito anos, quer repassar um Brasil em adiantada decomposição moral a uma figura que mente como quem respira.
Para Lula, o dia do ataque das milícias do PT justificaria a criação de um Dia da Mentira. No calendário do Brasil decente, os dias da mentira começaram em 1° de janeiro de 2003. Até esta sexta-feira, já são 2.852. Quase 70.000 horas.

Um comentário:

Anônimo disse...

É verdade. Nunca antes na história desse país, um presidente agiu de forma tão amoral e imoral. Estamos vivendo num momento nunca antes vivido. Antes os corruptos ficavam escondidos, tinham vergonha, se pudessem, sumiam. Hoje, eles agem com a certeza da impunidade e do apoio que vem do presidente. Quer que percamos o senso de moral, de honestidade. Quer ser endeusado, adorado, com seus 80% de aceitação. Porque não obteve sua candidata os 80% de votos? Porque não se pode enganar todo mundo, o tempo todo.

Bel