quinta-feira, 20 de junho de 2013

Alerta antigo

As multidões desenfreadas nas ruas, que são o caminho para as grandes brutalidades e injustiças, manifestação do primitivismo, mais um exemplo da horda, movidas por paixões, sobretudo o medo, aguçadas pelos exploradores eternos de suas fraquezas, pelos demagogos mais sórdidos, passam a ser exemplos de superioridade humana.

Tais espetáculos apresentam-se aos olhos de muitos como o mais alto estágio da grandeza humana. São elogiados como manifestações de “consciência social”, da “vontade popular”, etc. Nada há aí de grandioso. Não que os homens não possam unir-se para manifestar o que desejam, o que temem, o que querem. Para isso há meios vários, cultos, ordenados, superiores para propagar o seu querer, o seu pensar e o seu desejo. Uma sociedade culta multiplica esses meios e não usará, senão em casos extremos, a horda, a enxurrada popular, o desenfreio.

A opinião pode organizar-se em órgãos cultos e civilizados, e ter meios também cultos e civilizados de manifestar-se. E são eles suficientemente poderosos e eficazes para atingir as metas desejadas. A horda deve ser a última coisa que se deva utilizar. No entanto, açulam-se as suas formações, como se esse caminho não fosse o mais apto para criar césares, em vez de organizar um movimento de profundidade culta. Esses movimentos só têm servido para apoiar tiranos e desenvolver a brutalidade organizada, porque o desenfreio das massas nas ruas não pode ser permanente, e exige, desde logo, a imposição da ordem, o que favorece, então, o emprego desmedido da força e o abuso dela, com conseqüências graves e perniciosas até para aqueles que foram os mais ativos nessas manifestações bárbaras.

- Mário Ferreira dos Santos, filósofo brasileiro (escreveu isso há mais de 40 anos)

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