Mesmo os mais ardentes propugnadores de uma intervenção militar afirmam que as Forças Armadas não se moverão para colocar ordem no caos se não forem convocadas a isso, explicitamente, pelo clamor das ruas, como aconteceu em 1964, quando, na maior manifestação popular até então registrada na nossa História, a sociedade civil exigiu o fim do governo Goulart.
Acontece que em 1964 ninguém saiu às ruas para pedir que os militares tomassem o poder. Eles o fizeram por decisão própria, traindo e depois expulsando da política a própria liderança civil cujo chamado alegavam atender. O que a população pedia era simplesmente o fim do descalabro janguista e a realização de novas eleições num prazo de seis meses. Os militares ocuparam a presidência ao longo de vinte anos porque se achavam gênios iluminados capazes de resolver todos os problemas do país. Não digo que não resolveram nenhum. Fizeram a economia crescer e construíram importantes obras de infra-estrutura. Mas, quando voltaram aos quartéis, em 1984, o movimento comunista, que haviam prometido eliminar, estava mais forte do que nunca, dominava a mídia, as universidades e o movimento editorial, controlava o partido de oposição e estava pronto para retornar triunfalmente ao poder de uma vez para sempre, como de fato veio a acontecer.
Foi o próprio governo militar que, rasgando o ventre em que foi gerado, tornou inviável qualquer nova intervenção posterior das Forças Armadas, mesmo nos momentos mais dramáticos como o de agora. Não faz sentido destruir a liderança civil e depois esperar que ela convoque de novo, para salvar o Brasil, aqueles mesmos que a destruíram.
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