quinta-feira, 20 de junho de 2013

Trecho de artigo de Olavo de Carvalho

Mesmo os mais ardentes propugnadores de uma intervenção militar afirmam que as Forças Armadas não se moverão para colocar ordem no caos se não forem convocadas a isso, explicitamente, pelo clamor das ruas, como aconteceu em 1964, quando, na maior manifestação popular até então registrada na nossa História, a sociedade civil exigiu o fim do governo Goulart.
Acontece que em 1964 ninguém saiu às ruas para pedir que os militares tomassem o poder. Eles o fizeram por decisão própria, traindo e depois expulsando da política a própria liderança civil cujo chamado alegavam atender. O que a população pedia era simplesmente o fim do descalabro janguista e a realização de novas eleições num prazo de seis meses. Os militares ocuparam a presidência ao longo de vinte anos porque se achavam gênios iluminados capazes de resolver todos os problemas do país. Não digo que não resolveram nenhum. Fizeram a economia crescer e construíram importantes obras de infra-estrutura. Mas, quando voltaram aos quartéis, em 1984, o movimento comunista, que haviam prometido eliminar, estava mais forte do que nunca, dominava a mídia, as universidades e o movimento editorial, controlava o partido de oposição e estava pronto para retornar triunfalmente ao poder de uma vez para sempre, como de fato veio a acontecer. 
Foi o próprio governo militar que, rasgando o ventre em que foi gerado, tornou inviável qualquer nova intervenção posterior das Forças Armadas, mesmo nos momentos mais dramáticos como o de agora. Não faz sentido destruir a liderança civil e depois esperar que ela convoque de novo, para salvar o Brasil, aqueles mesmos que a destruíram.

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